Elvis Costello está de regresso a palcos portugueses vinte anos depois.
Porque é que, em 1975, mudou o seu nome, Declan Patrick MacManus, para Elvis Costello?
O meu empresário da altura achou que era importante eu ter um nome artístico, mais apelativo e que fosse fácil de fixar. Não há nada de misterioso ou de lógico nisso. É apenas um nome.
O ano passado foi nomeado para três Grammy e foi premiado com "I Still Have That Other Girl." O que é que isso representou para si?
Lembra-me uma estranha corrida e eu não gosto de competir. Aliás, a arte não serve para competir mas para partilhar. Contudo, não posso ignorar que os Grammy de 2003 foram muito importantes para mim.
Porque foi lá que conheceu pessoalmente a sua actual esposa, Diana Krall?
Precisamente. Apesar de ter ganho o Grammy, comparado com o facto de a ter encontrado, isso teve pouca importância.
Foi paixão à primeira vista?
Não. De início a nossa relação não teve nada de romântico. Foi só amizade. Uma amizade que não parou de crescer e que, com o tempo, se transformou em algo de fantástico.
North, o seu último disco, não traduz portanto esse amor...
Nem podia. Apesar de ter sido editado o ano passado, acabou de ser composto em 2002, pelo que ela não teve tempo de o influenciar.
Quer dizer que o seu próximo registo será menos melancólico?
Tudo indica que sim. Já estou a trabalhar nele e é provável que se venha a chamar South. A Diana está a ter uma grande influência no resultado, ao nível do sentimento e do encorajamento. As canções são mais leves e soltas.
Algumas pessoas reconhecem-no como um dos melhores escritores de canções a par de Bob Dylan. O que é que acha disso?
É um grande elogio, mas só posso dizer que Bob Dylan, tal como os Beatles ou Joni Mitchell, contribuíram para a minha formação musical e forma de escrever. Contudo, provavelmente, as minhas maiores influências foram o meu pai, que era músico, e a minha mãe, que trabalhava numa loja de música.
Por vezes, as suas canções parecem liricamente vagas.
Não diria vago mas diferente. Há muitas maneiras de escrever e a minha não é propriamente óbvia ou descritiva do meu carácter. Escrevo canções como quem pinta um quadro abstracto. As minhas letras, mesmo sendo obscuras, pretendem estimular a imaginação, sendo, muitas vezes, a própria música a sugerir o sentido das palavras.
O que podemos esperar dos seus três concertos em Portugal?
Não percebo muito bem porquê mas há mais de 20 anos que não toco em Portugal. Provavelmente porque o primeiro e único concerto que dei em Lisboa tenha tido tantos problemas. Contudo, espero que o público sinta as minhas canções como se fossem suas. Serão concertos calmos alternados com momentos intensos que irão percorrer alguns momentos da minha carreira. Vamos tocar temas de North e apresentar outros do próximo disco. Também respondemos a pedidos do público e só espero que não me odeiem nem me insultem.
De certeza que isso não vai acontecer. Conhece alguma coisa da música portuguesa?
Gosto muito de Amália Rodrigues e de Dulce Pontes. Admiro-as pela simplicidade, pela força da voz, pela melancolia. Não percebo a língua mas entendo a profundidade do sentimento.
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