1. SEGUNDA-FEIRA
Por impedimentos que não vêm agora aqui a propósito, mas que seria interessante um destes dias serem explicitados, o habitual Pavilhão de Cascais foi novamente não utilizado e, em seu lugar, apareceu o Pavilhão de Os Belenenses como cenário dos dois concertos lisboetas de Elvis Costello and The Attractions.
E a impressão que logo ressalta desta sala é que as condições acústicas não são nada famosas. Se Cascais não é bom, aqui é pior. No primeiro dia em que Costello actuou, e no qual estive presente, a casa estava composta mas com clareias — três mil e quinhentas a quatro mil pessoas. (Para o segundo show estavam mais bilhetes vendidos embora não igualando o número atingido no Porto com assistencia computada, e sempre utilizando informações de alguns membros da organização, em seis mil pessoas).
2. UHF A CORES
Abriram os UHF com uma exibição mais discernida e mais pesada do que a anterior que lhe viramos em Cascais encetando o show dos Dr. Feelgood.
Também a presença do grupo em palco melhorou em relação a Cascais conquanto o vocalista mostrasse de novo não ser nenhum primor a mexer-se lá em cima das tábuas.
3. INTERVALO
P'ra variar foi longo.
4. UM POR UM
Mal a função começou a tónica estava dada: o som era mesmo bera — bateria, órgão, baixo, guitarra e voz formavam uma amálgama da qual ninguém se safava com nitidez.
Uma banda voltada para o heavy-metal que se saiu muito bem com o som compacto fornecido pela aparelhagem.
Steve Naive no seu pequeno órgão era o mais espectacular fazendo por várias vezes perigar o equilibrio do instrumento em virtude da sua prestação deveras vibrante.
Pete Thomas, de quem poeticamente poderiamos dizer "qual Popeye em plena possança espinafrosa," batia desalmado mirando amiúde o teclista que the fornecia apoio tácito com patadas nas teclas.
Bruce Thomas, o baixista, era o mais compenetrado. Só quando as coisas aqueceram deliberadamente, ele se livrou do casaco e, ao ritmo da gravata pendular, mastrucharcou com veemência o braço e as cordas do seu instrumento.
Por fim Elvis Costello. Ao vivo ele é ainda mais pequeno e fininho do que aparenta ser. Calmo e pacato. Não se limita a debitar as canções. Interpreta-as. E assim nos transporta a gravidade quando, inflamado por um projector vermelho — ácido, verbera coisas que ninguém compreende — qualidade do som oblige — mas sente sérias, ou quando, nalgumas passagens mais reggae, ensaia um pachorrento trinado corporal bem cadenciado, ao ritmo morno da música — e sorri. Deu ideia de querer aproveitar o feedback na guitarra mas foi frequentemente traído porque ele desatinava para um som feedbáquico agudo e impossível.
5. GRAFICO
Se quisessemos fazer um grafico deste concerto, considerando os momentos de maior ou menor vibra-cao, teriamos uma fase inicial a todo o gas logo seguida de uma certa apatia que se foi diluindo medida que os temas mais conheci-dos foram chegando: "I Don't Want to Go to Chelsea," "Accidents Will Happen," "Oliver's Army," um tema de Dave Edmunds cujo titulo nao me lembro, "Green Shirt" e uma longa e tarabiscotante versao de "Watching The Detectives." Nunca se perdeu contudo a ideia de que Elvis Costello e The Attractions nao estavam a funcionar em pleno. "0 outro concerto foi muito melhor" dizia. perto de mim, alguem que tambern estivera presente no Porto.
6. CRETINO MANAGERENTE
Na vespera tinha existido o primeiro sinal: nao haveria entrevistas para ninguém. O que Elvis Costello tinha para dizer estava nas cancoes. Fora disso nao havia nada para ninguém. Mas o indomito colaborador Trinda-de Santos queria sacar a entrevista que completava esta nossa reporta-gem. E, antes dos extras, arrancou: ou havia entrevista ou merda. Houve merda.
E que o manager do Costello nao se foi em mais aquelas e, quando T. Santos se arrimava a umas grades cuja ultrapassagem permitiria ficar mais perto de Costello, resolveu pontapear, agredir com as patas dianteiras e destruir uma cassette ao meu colega.
Segundo consta, quando o policia o foi visitar ao hotel no dia seguinte, ja estava mais calmo.
O cretino managerente.
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