Depois de cinco anos de ausência, Elvis Costello está de volta. E em grande estilo. Depois da colaboração com o The Roots, banda do programa de Jimmy Fallon, no álbum anterior, agora o inglês de Liverpool retoma sua frutífera simbiose com o The Imposters. É a primeira colaboração em dez anos. Look Now (Concord/2018) é sofisticado. Mostra a evolução natural que chamou a atenção lá em 1982 na obra prima Imperial Bedroom, na qual Costello vai muito além do pós-punk que vinha apresentando até então.
O novo disco também tem algo de Painted From Memory, de 1998, sua faceta crooner, em parceria com Burt Bacharach, que também colaborou nesse aqui com três faixas: a bela "Don't Look Now", "Photographs Can Lie" e "He's Given Me Things". Outra participação de luxo é Carole King, em "Burnt Sugar Is So Bitter". Um novo trabalho de Costello é um regozijo tamanho que é impossível conter a euforia infantil ao se deleitar com cada uma das 12 faixas (16 se for a versão deluxe). "Stripping Paper", por exemplo, é de uma densidade comovente, sobretudo por ser rara na música atual. "I Let the Sun Go Down", assim como o irresistível groove e suingue de "Mr & Mrs Hush", é uma perfeita mostra de como se molda uma música pop com refinamento. E nisso estamos falando de um dos maiores mestres vivos e em atividade.
A voz de Costello transita pelo dramático, o grandiloquente, por vezes assumindo o papel de um personagem… feminino. Sim, repare nas letras de "He's Given Me Things" e "Unwanted Number" (essa última composta para o filme A Voz do Meu Coração). Ele conta também com uso de cordas e eficientes backing vocals. E, claro, não se pode esquecer do pianista Steve Nieve. Na audição, não é difícil entender por que ele tem sido um dos parceiros musicais mais valiosos desde o final dos anos 70.
Estamos diante de um dos melhores álbuns do ano? Não é exagero dizer que sim. Mas um aviso para os fãs de Elvis Costelllo da fase inicial, dos álbuns My Aim Is True, This Year's Model e Armed Forces: Look Now não traz nada parecido com "Oliver's Army", "Radio, Radio" ou "(What's So Funny 'Bout) Peace, Love and Understanding". E nem deveria. Ele guarda essa fase com o devido carinho e gratidão, mas a história tem que seguir seu curso. E o Costello que temos no novo disco é o produto da constante progressão musical ao longo desses 41 anos de carreira. Mais um tiro certeiro do rapaz de Liverpool.
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