'How to Play the Guitar, Sing Loudly and Impress Girls or Boys'. Num recital intimista e extrovertido, contemplativo e frenético, Elvis Costello abriu (sexta-feira) e folheou perante o auditório do Coliseu do Porto algumas das páginas do livro, com esse título, que está a conceber. Prestes a comemorar meio século de vida, este expoente da new-wave britânica deixou bem escrito que vai continuar a ser uma singular atracção da cena pop erudita.
O regresso a palcos lusos de Elvis Costello foi um sonho realizado
Após 20 anos de ausência, Elvis voltou a Portugal para mostrar no Porto, Lisboa e Figueira da Foz, a contida orientação jazz vocal do disco North, embora a sua bússola o encaminhe também para as latitudes estridentes do rock, no projecto ‘South’, que ainda este ano deverá gravar com a banda Imposters. Banhado por luzes em tons de azul eléctrico e turquesa, roxo e violeta, o sr. Declan Patrick Aloysious McManus fez em ‘Almost Blue’, por exemplo, uma soberba demonstração do poder flexível dos seus dotes vocais.
Dono de uma primorosa elocução de voz, dedilhando exímio a guitarra, levou os fãs de várias gerações ao encantamento, com ‘You Turned To Me’, ‘Fallen’, ‘When It Sings’ ou ‘Still’. Temas onde a sua verve de irónico e acutilante cronista sentimental adquirem uma respiração confessional, em melodias tecidas de malhas sonoras densas e tranquilas, forrando paisagens líricas onde o brumoso e o iluminado coabitam.
Actuando em duo com o pianista Steve Nieve – companheiro dos tempos dos Attractions –, Elvis levou a plateia a balançar a ‘pelvis’ alternando as baladas de aura romântica (do estilo ‘I Want You’) com hinos da new-wave como as memoráveis ‘Alison’ ou ‘Watching The Detectives’, êxitos do seu disco de estreia My Aim Is True(1977).
O reencontro do mordaz ‘song writer’ com os admiradores portuenses foi um sonho realizado, apesar da sua coerência não o ter deixado satisfazer os pedidos de ‘Shipbuilding’ ou ‘She’.
“Ele não costuma cantar a pedido”, explicou o fã, de nome Virgílio, um dos muitos que recordaram no Coliseu o concerto que o músico deu há duas décadas no Pavilhão do Infante de Sagres, na época dos álbuns This Year’s Model’, ‘Armed Forces’ e ‘Get Happy’. Felizes, já podem preparar os ouvidos para o disco ‘Il Sogno’, que será gravado este ano com a Sinfónica de Londres.
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