Elvis Costello (como é conhecido Declan McManus) não é o que se pode chamar uma personagem simpática. Jogando muitas vezes por fora das regras da indústria, sorumbático, teimoso, irreverente, arrogante, enfim, estando-se nas tintas para o resto do mundo, não se inibiu assim de antagonizar jornalistas, colegas de profissão, produtores e outros técnicos. A sua misantropia só não o impediu de se manter fiel a uma carreira que conseguiu conciliar a diversidade estética com uma qualidade média elevada - e como tal foi recompensado com o sucessivo surgimento de novas audiências.
Passados os inícios da "new wave" com os Attractions, e os anos 80 da luxuriante pop orquestral, tem-se dedicado nos últimos anos à canção clássica (com outro mestre, Burt Bacharach), a bandas sonoras, a adaptações para música de câmara (Brodsky Quartet) e, principalmente, ao jazz. Paralelamente, foi abandonando as vinhetas de crítica social (como o poderoso lamento anti-Thatcher, "Shipbuilding") e dedicando mais atenção aos relacionamentos amorosos. Pode, aliás, seguir-se o percurso entre as suas companheiras e suas musas e a sua música. Nos anos 80/90, casado com Cait O'Riordan, ex-baixista dos Pogues, avançou por vezes pela vertente mais celta e folk. Agora, casado com a cantora e pianista Diana Krall, volta-se para o jazz - seis dos temas do último álbum de Krall, "The Girl In The Other Room", foram co-compostos por Costello.
Num ano balizado por apresentações com orquestras e a gravação de um novo álbum com banda no Outono, o trovador desconcertante faz uma pequena digressão por Itália e Portugal. Os concertos de hoje, amanhã e depois (Porto, Lisboa e Figueira da Foz, respectivamente) serão essencialmente preenchidos pelas baladas para piano do álbum de 2003, North, e as peças de cariz jazzístico do novo álbum. No palco, Costello conta com a cumplicidade do pianista Steve Nieve. E com a paciência do público que, oferecendo um silêncio e atenção desmesuradas, recebe uma voz rugosa e resmungona, uma paleta de sons de um dos maiores compositores do século XX, e visitas guiadas a lugares e personagens de um imaginário por vezes sujo, por vezes radioso. Mas sempre intrigante.
ELVIS COSTELLO
sexta, 7, PORTO. Coliseu do Porto. Rua Passos Manuel, 137. Às 21h30 (portas abrem às 20h30). Tel.: 223394947. Bilhetes: 40 euros (cadeiras de orquestra); 32,5 euros (1ª plateia e tribuna); 30 euros (2ª plateia); 25 euros (camarote 1ª e frisas).
sáb., 8 LISBOA. Coliseu dos Recreios. R. Portas Santo Antão, 96. Às 21h30 (portas abrem às 20h30). Tel.: 213240580. Bilhetes: 40 euros (cadeiras de orquestra); 35 euros (1ª plateia); 30 euros (2ª plateia); 27,5 euros (balcão); 20 euros (galeria). Camarotes: 125 euros e 165 euros.
dom., 9 FIGUEIRA DA FOZ. Centro de Artes e Espectáculos. Rua Abade Pedro. Às 22h00. Tel.: 233407200. Bilhetes: 40 euros.
|