Quando Elvis Costello escreveu a canção Oliver’s Army, de 1979, ele usou como referência uma situação vivida por seu avô, que era chamado de white nigger entre os militares do Exército britânico, por ser um irlandês católico. O termo pejorativo é um xingamento voltado para pessoas brancas ou mestiças, tidas como inferiores, sendo diretamente comparadas aos negros. O que era para ser uma canção contra o preconceito, porém, ganhou outro significado hoje em dia: o uso da palavra nigger, termo racista inadmissível na língua inglesa, se tornou vergonhoso e proibitivo para um cantor branco.
Costello afirmou que não vai mais cantar a faixa em seus shows e chegou a pedir para que as rádios não a toquem mais. A movimentação do cantor de 67 anos segue o caminho de outros artistas que optaram pela autocensura após leituras revisionistas de músicas antigas. Essa onda provoca desde aplausos até críticas ferozes — ânimos contraditórios que, para o bem e para o mal, fazem com que o revisionismo chegue às letras de fato questionáveis, mas também atinja outras num afã exagerado de atender à correção política.
No ano passado, os Rolling Stones tiraram de seu repertório Brown Sugar, sucesso de 1971, por causa da letra que fala sobre escravidão e faz uma alusão ao estupro em um trocadilho com vício em heroína. Apontada como racista, a faixa, no fundo, seria uma crítica à escravidão, disse o guitarrista Keith Richards, o único da banda contrário à exclusão da faixa nos shows.
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