When I Was Cruel é o título genérico para o novo álbum de Costello, que assim interrompe sete anos de silêncio no que respeita a discos a solo.
De há muito que este Declan MacManus, que optou pelo nome artístico de Elvis Costello, nos habituou a músicas e interpretações geniais. A sua estreia, com My aim is true, foi no distante 1977, em plena ebulição "punk", momento em que muitos "singer-songwriters" evitariam a exposição. Costello, acompanhado do seu grupo predilecto-The Atractions -, gravaria mais de uma dúzia de discos, onde avultam clássicos da "pop-music" como This Year's Model, Armed Forces ou King of America.
Depois decidiu-se por uma pausa nas edições a solo, a fim de desenvolver uma série de parcerias que viriam a enriquecer o seu currículo, como com o Brodsky Quartet, editando The Juliet Letters, um êxito mundial que daria origem a uma das maiores digressões da sua carreira. Foi também convidado a ser, por um ano, o director artístico do festival londrino Meltdown, onde figuram nomes como Robert Wyatt ou Pete Lawrence.
As actividades de Elvis Costello não paravam... Compôs música para a comemoração do tricentenário da morte do compositor Henry Purcell, assinou a partitura de Tom Thumb, interpretada pela Academy of St. Martin-in-the-Fields - dirigida por Sir Neville Mariner -, trabalhou com Arme Sophie Von Otter... e foi vendo o seu "songbook" ser alvo de versões por músicos e artistas tão diversos como Chet Baker, June Tabor, Johnny Cash, Roy Orbison ou Dusty Springfield.
No meio desta azáfama, Costello voltou a lembrar-se da carreira a solo e tratou de reunir um lote de canções que pudesse devolver-lhe o gosto pela pop. Ele mesmo afirma que, nos últimos anos, fez demasiados duetos e cantou demasiadas baladas, daí o gozo renovado com que gravou "When I Was Cruel pt. 2" ou "Alibi". Voltou a Dublin, para gravar no mítico Windmill Lane Studio (de que os U2 só têm boas recordações), voltou a trabalhar com o teclista Steve Nieve e o baterista Pete Thomas. Ao fazerem-lhe o reparo de que este é talvez um dos seus discos com maior predominância de guitarras, Costello concorda alegremente e diz: "Para terror dos bons guitarristas, aqui está de regresso o homem das pequenas mãos de cimento."
When I Was Cruel pode considerar-se um bom disco de regresso para Costello. As canções voltam inspiradas e significativas - o tema "45" é de um autobiografismo curioso —, a voz e o poder interpretativo fazem-nos matar saudades de um dos mais criativos compositores e "pop-singers" dos 30 últimos anos em Inglaterra.
Ao contrário de muitos "regressos" artísticos indesejados, o de Elvis Costello merece mesmo a vossa atenção.
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