Elvis Costello sempre soou ser um artista bastante inquieto ao longo dos anos e, ainda por cima, é um dos mais ativos ao conseguir trabalhar sozinho ou com outros grupos — nisso incluindo The Roots. Se os últimos álbuns contaram com as participações de bandas, Hey Clockface traz o cantor, compositor e instrumentista sozinho, o primeiro do tipo em uma década.
Desde American Utopia, de David Byrne, ouço novos álbuns e penso quais poderiam virar um material além das músicas? O novo de Costello se encaixa perfeitamente nisso. O que pode soar uma coleção de canções fragmentadas e sem sentido lógico, também pode soar algo com início, meio e fim em que ele explora os mais diversos gêneros para desenvolver essa história.
"Revolution #49" tem cara de começo mesmo, dessas para colocar o público no clima do trabalho, então entraria "No Flag" com sua forte letra sobre uma pessoa não ter nada e não acreditar em nada — "I got no religion, I got no philosophy/ Got a head full of ideas and words that don't seem to belong to me/ You may be joking but I don't get the gag/ I sense no future but time seems to drag".
O álbum ainda apresenta momentos melancólicos ("They're Not Laughing at Me Now", "I Do (Zula's Song)"), histórias de tons muito reais ("Newspaper Pane") e críticas ao atual momento do mundo ("We Are All Cowards Now"). E como é um disco com músicas dos mais variados tipos, Costello canta jazz ("Hey Clockface / How Can You Face Me?"), baladas ("The Whirlwind" e "The Last Confession of Vivian Whip") e algo mais experimental ("Hetty O'Hara Confidential").
Um disco ser pensado para outras mídias pode ser uma nova abordagem dos artistas para um futuro bastante próximo. Elvis Costello consegue fazer de Hey Clockface um espetáculo em áudio que ganharia muito se fosse para o teatro. Por isso, mesmo não sendo ruim, o disco está longe de estar entre os melhores trabalhos da carreira dele. A mensagem ganharia mais força em outro formato.
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